Tenho sentido falta de publicar coisas nesse blog. Talvez as últimas intempéries da vida e mesmo a facilidade de se obter informação superficial pelo Twitter, Facebook e RSS tenham me afastado de textos longos.
Fiquei horas buscando conteúdo alheio em blogs desconhecidos no Google pra tentar falar de algo superficial e leve, mas o âmago desse pequeno são mesmo textos sobre mim.
E isso tudo provavelmente porque estou tentando não falar do fechamento de mais um ciclo na minha vida.
Fico pensando em quantos ciclos já não tive que fechar forçosamente, dolorosamente, mas todos necessários. Pensando em como eles me trouxeram maturidade que talvez eu nem precisasse, mas que hoje se fazem essenciais pra que eu passe com mais força pelas adversidades que tenho passado.
Mas especialmente esse pedacinho da minha vida morando em Lins me fez amadurecer bastante e dar um passo a mais pra alcançar a serenidade que eu tanto objetivo na vida. (Sim, esse é meu objetivo de vida, me dei conta de que posso defini-lo agora, mas é assunto pra outro dia)
Só fui me dar conta de quanto essa etapa foi importante pra mim e acabou ontem ao chorar por uma despedida linense pela primeira vez. E sei que vou chorar muito mais, manteiga derretida que sou, pois me disseram que eu sou sensível sim, e não dramática.
Eu confesso que odeio Lins. Odeio passar por lugares que tenho recordações de uma infância da qual fui tirada violentamente. Odeio as pessoas soberbas dessa cidade. Odeio o trânsito bagunçado sem pé nem cabeça que me tira do sério. Odeio consumir em lugares em que se eu não estiver bem vestida serei mal atendida. Odeio a falta de ambientes de lazer. Odeio a falta de voz que tenho dentro do meu trabalho. Odeio ficar condicionada a trabalhar muitas vezes num papel de estagiária. Odeio o maldito portão de casa que não fecha direito. Odeio a rotina dos meus avós. Odiei as brigas com o meu tio, necessárias mas estressantes. Odiei assumir a responsabilidade de cuidar dos meus avós em um momento que eu não estava conseguindo cuidar nem de mim. Odiei passar noites em claro ouvindo meu avô com falta de ar dizer que queria morrer. Odiei ver minha avó chorando e não poder fazer nada. Odiei muita coisa que não me fará falta.
Mas sei que vou chorar por ter amado talvez numericamente menos, porém muito mais. Por ter amado a receptividade do corpo de funcionários dessa escola. Por ter amado as festinhas e os churrascos. Pela época que ficava sentada na pracinha lendo um bom livro ou ouvindo uma boa música enquanto o tempo não passava. Pela proximidade criada com meus irmãos e mãe por conta das desavenças com o resto da família. Por poder ver a gargalhada gostosa do meu avô. Por poder apoiar minha avó em coisas que ninguém sabia que ela passava. Pela psicóloga que se mostrou mais humana e mais encorajadora do que qualquer outra pessoa dessa vida. Pela Diana e Cris, que se mostraram mais companheiras de trabalho do que meras estagiárias. Pelos funcionários que quanto mais simples, mas amáveis são, como a Dona Gê, a Jô, a Luci. Pelas destrambelhadas conversas da Karina e pelos doces atos de gentileza de me trazer cafezinhos da Josi. Pelos docinhos do Zé. Por todos os seguranças que, apesar da profissão, são menos rudes que muito professor. Pela espontaneidade e carinho da Lucimara que te lembra que alguns dias não são ruins só pra você, mas pode-se sorrir. Pelos risos com o Djalma e as imitações do Experidião. Pela credibilidade e honestidade do Honorato. Só pela cara do Nakai. Pelo carinho de alguns alunos que mesmo com a minha postura de distância, conquistaram um pedaço do meu coração. Pela amizade criada com a Andreza. Pelas horas de "fazer uma fumaça" com o Celso, que com certeza foram muito mais do que isso. Foi mais do que a rotina, foi mais do que o coleguismo no trabalho. Foi dividir um convívio maravilhoso. Foi receber conselhos e ajuda. Foi grande parte do que me manteve paciente com os dissabores do funcionalismo público nesses 8 meses e pouco. Foi (e continuará sendo) um grande amigo.
É muito mais difícil descrever o que a gente ama do que o que se odeia. Mas eu odeio deixar isso aqui. E é uma perda imensa, mas necessária agora. Tenho orgulho de dizer que amei vocês mesmo odiando Lins, coisa que jamais esperaria.
No fim, acabei fazendo o que evitei o tempo todo: criar vínculos.
E os levarei sempre no meu coração e no meu amadurecimento, de vez em quando esquecendo fatos ou até nomes. Mas o coração não esquece. E eu espero sinceramente que o bem que essas pessoas me fizeram volte em dobro, mesmo que não saibam da importância disso tudo.
Amanhã é meu último dia na Etec Lins. Será minha última sexta-aula. E vai doer bastante.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
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